Saturday, September 17, 2011

HOMENAGEM


Bispo D. Januário capelão das Forças Armadas - Ex. bispo de Setúbal D. Manuel Martins


Quero aqui prestar a minha singela homenagem de admiração e estima por estas duas proeminentes figuras públicas da igreja católica portuguesa, na actualidade, pela coragem e lucidez das posições que ambos têm vindo a assumir, na defesa das suas convicções cristãs, ou seja, na defesa dos mais pobres, dos humilhados e excluídos da nossa sociedade.

Efectivamente estamos perante duas personalidades incómodas para com os poderosos, o conservadorismo, os silêncios e a apatia da sociedade portuguesa, tal como acontecia no nefasto tempo da ditadura, em que outra figura pública, como o saudoso bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, se notabilizou pela sua coragem na luta contra o fascismo.

Num preciso momento de servidão, em que o país se encontra, a caminhar a passos largos para o desastre, para o abismo, estes homens de bem, saíram das suas cátedras, para denunciar esta política de agressão contra o povo português, que está a ser levada a cabo, por este governo do PSD/CDS e com o acordo do PS.

Não vemos até ao momento, que outros altos dirigentes da igreja o tenham feito, antes pelo contrário vemos outras figuras como o cardeal D. Policarpo, tal como o cardeal Cerejeira no tempo da ditadura, a colaborar com esta política sinistra, com o corte do subsídio de Natal, com os aumentos dos transportes, aumento do IVA, do gás e electricidade.

Ninguém nega a D. Policarpo o direito à sua opinião pessoal, agora, aproveitar-se de forma abusiva do alto cargo que ocupa na hierarquia da igreja para vir a público pronunciar-se como apoiante do corte de subsídio de Natal, ou qualquer outra opinião de cariz político facioso, é expor-se publicamente e sujeitar-se a críticas ora benévolas ora violentas.

Fica assim provado, que dentro da igreja, ao contrário do que algumas criaturas tenta fazer crer, também há diferenças de opinião política, para não dizer luta de classes, não fosse ela (igreja), constituída por homens.

TESTEMUNHOS:

D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, diz que não entende bem as medidas de austeridade impostas pelo Governo, avisando que poderão ter elevados custos sociais.

«É preciso ter muito cuidado. Porque é nestas horas que se fazem grandes fortunas. E, sobretudo, é nestas horas em que os mais pobres ficam mais pobres e alguns ricos ficam muitíssimo mais ricos», disse o prelado no Funchal, à margem da comemoração dos 58 anos da Força Aérea Portuguesa.

O bispo referiu que, «nesta altura, pedir austeridade é pedir sobretudo aqueles que ganham mais», dizendo que, em muitos casos, «não é isto que está a acontecer».

«Nós temos de lutar e dizer em voz alta, com respeito, respeitando a liberdade, respeitando as pessoas, mas respeitando antes de mais a verdade», apontou.

(D. Januário, bispo capelão das Forças Armadas)

«Vejo esta crise com muita apreensão, com muito desgosto, com alguma vergonha. Estou convicto que esta crise era evitável se à frente do país estivessem pessoas competentes, isentas, pessoas que não se considerassem responsáveis por clubes, mas que se considerassem responsáveis por todo um povo, cuja sorte depende muito deles. E fico muito irritado quando, por parte desses senhores, que nós escolhemos e a quem pagamos generosamente, vejo justificar que esta crise impensável por que estamos a passar, é resultante de uma crise mundial. Há pontas de verdade nesta justificação. Esta crise, embora agravada por situações internacionais, é uma crise que já podia ter sido debelado por nós há muito tempo, se nós não andássemos a estragar o dinheiro que precisávamos para o pão de cada dia.(...) Estas situações, da maneira como estão a ser agravadas e, sobretudo, da maneira como estão a ser mal resolvidas, podem ser focos muito perigosos de um incêndio que em qualquer momento pode surgir e conduzir a uma confrontação e a uma desobediência civil generalizadas (...). Mete-me uma raiva especial quando vejo o governo a justificar as suas políticas e as suas preocupações de manter e conservar e valorizar o estado social do país. Pois se há alguém que esteja a destruir o estado social do país, é o governo, com o que se passa a nível da saúde, a nível da educação, a nível da vida das famílias, dos impostos, dos remédios, mas que tem só atingido as pessoas menos capazes, enfim as pessoas que andam no chão, as pessoas que estão cada vez com mais dificuldades em viverem o dia-a-dia, precisamente por causa destas medidas do governo.»

(D. Manuel Martins antigo bispo de Setúbal)

2 comments:

Alexandre Martins said...

Agora sou eu que não percebo as palavras do Cardeal Patriarca. Então ele, presidente da CEP, vai dizer uma coisa quando dois dos seus bispos defendem outra? Cada vez menos percebo a CEP.
Os bispos em questão neste post são, para mim, vultos de referência na Igreja e deixa-me apreensivo que até a esquerda já refira os bispos como exemplo de que as coisas estão muito mal; então é porque as coisas estão mesmo mal.
Que grande abre-olhos sr. Beja, que grande abre-olhos.. Pelo menos para mim, imberbe nesta coisa da política e me deixei levar pela "raiva" que fui educado a ter por quem está contra a Igreja. Parece-me a mim que é a Igreja (ou alguma da sua constituição antropológica) que começa a estar contra nós...

BEJA TRINDADE said...

Meu caro Alexandre Martins

Começaria por lhe dizer, que compreendo bem as suas dúvidas, incertezas e inquietações sobre os rumos da igreja.
Oh se compreendo!
Tenho 65 anos e na minha juventude, ou seja, nos anos 60 em pleno regime fascista, fui um fervoroso militante da Ação Católica (Juventude Operária Católica). Esta escola contribuiu de forma decisiva para a formação que julgo ter hoje, nomeadamente a minha consciência política, cívica e social, que com a vivência dos tempos provocou em mim vicissitudes irreversíveis acerca daquela opinião, simples e pura que então eu tinha sobre do comportamento e objectivos da igreja.
Hoje, reconheço que a igreja muito embora tenha ações meritórias no campo social, isto, no quadro de uma sociedade de cariz capitalista, em que fatores como a esmola e a caridade são elementos determinantes na continuidade do sistema, isto é, a população mais carenciada acaba por ficar refém deste tipo de subsistência, e com isto perde a sua natural capacidade reivindicativa dos seus direitos constitucionais e assim prevalece a continuidade do sistema de subserviência tutelada e pode crer que nada disto acontece por obra do acaso.
Outra das vergonhosas e razões chocantes, é a eterna ação de simonia praticada pela igreja, ao longo dos séculos, que naturalmente se traduz na angariação de fundos, para reverter no show off da caridade dita cristã, ou seja, tiram com as duas mãos e nem sempre dão com uma, a mais valia, fica nos secretos offshores para acumulação e ostentação do riquíssimo Vaticano. Se Cristo cá voltasse teria naturalmente muito trabalho, para escorraçar uma enorme quantidade de vendilhões do Templo. Escusado será dizer, que me dispunha a colaborar com Ele.
Muito mais havia a dizer, mas para finalizar, não ficaria de bem com a minha consciência se não referisse que a igreja sempre foi uma aliada dos poderosos, sobretudo, a partir do Édito de Milão no ano (313 d.c.) na era do imperador Constantino, até aos nossos dias, passando pela tenebrosa inquisição, praticada entre o reinado de D. João III e abolida pelo Marquês de Pombal no reinado de D. José I.