Tuesday, May 27, 2014

AS ELEIÇÕES, A ABSTENÇÃO E O (MAU) RESULTADO

27 de Maio de 2014 às 0:46
Há trinta e oito anos que os deputados, autarcas, presidentes de junta e militantes do PCP denunciam as aberrações, roubos e atentados, levados a cabo, pelos partidos do "arco do gamanço" ou "arco da dívida" (psd/ps/cds), contra o nosso país e os portugueses.
Quando, em 27 de Março de 1977, m. soares, que era chefe do governo, fez o pedido de adesão de Portugal à então CEE, o Partido Comunista Português contestou essa decisão argumentando que o povo português não iria beneficiar em nada dessa adesão, antes pelo contrário, iria sair a perder. No entanto, e apesar dos protestos do Partido Comunista os partidos da direita (ps/psd/cds) levaram o seu projecto para a frente e "presentearam" o PCP com "mimos" tais como:"O PCP é sempre do contra, protesta sempre tudo; fala muito mas não faz nada; só sabe é atacar o que os outros fazem" etc, etc.
Recordo que o PCP era a favor de uma Europa unida,  uma Europa como União de Povos mas o que estava "em marcha" era uma Europa como união de governos, que decidiam, entre eles o que queriam, sem respeitar a vontade popular. E foi o que aconteceu: entrámos numa Europa a "duas velocidades", com dualidade de critérios e em que os países ricos dominam e exploram os países pobres.

No dia 1 de Janeiro de 1986, o "sonho europeu" tornou-se realidade e Portugal entrou na CEE como "membro de pleno direito". A partir de então, e tal como o PCP tinha previsto, começaram os atentados a Portugal: foram impostas "quotas para a produção de leite, da fruta, do vinho, das pescas, do azeite... de tudo o que fazia parte da nossa produção nacional. Portugal tinha que enterrar toneladas de batata, de fruta, de leite, de vinho e de azeitona porque a CEE não dava autorização para que os produtos fossem escoados; as centrais leiteiras fecharam porque não se podia vender o leite. Era preciso escoar os produtos produzidos nos outros países e Portugal teria que dedicar-se ao Turismo. Num país com tanto sol não tinha sentido que os naturais se dedicassem à agricultura, à suinicultura ou à pecuária. Era preciso construir hotéis para que os turistas estrangeiros pudessem vir para cá usufruir do nosso sol e do nosso mar; depois "nasceriam" muitos postos de trabalho - nos hotéis haveriam muitas camas para fazer, muito chão para esfregar, muita loiça para lavar, muita mesa para servir, muita roupa para engomar e muitas malas para carregar. Para além disso iriam ser construídos extensos campos de golf e também aí seriam necessários braços para carregar os tacos de golf dos turistas, mãos para tratar, cortar e regar a relva e braços para carregar as bandejas com as bebidas frescas para quando os senhores tivessem sede. Portugal seria um destino turístico e ponto final.Depois seguiram-se outras ordens da CEE: arrancar oliveiras, para que o azeite italiano e espanhol começasse a ser vendido no nosso país; finalmente veio a Lei das Pescas: A CEE entendeu que a nossa frota de pesca estava velha e ordenou que fosse abatida. Os portugueses que vivem praticamente com os pés dentro de água estavam proibidos de pescar e teriam que comprar o pescado que vinha de fora. Os resultados desta política não se fizeram esperar: agro-pecuárias e centrais leiteiras encerradas, terras ao abandono, trabalhadores rurais e pescadores sem trabalho, o tecido produtivo português começou a decair, tal como o PCP previra.

Anos mais tarde, em 7 de Fevereiro de 1992, cavaco silva, então primeiro ministro, assinou o vergonhoso Tratado de Maastricht que estabeleceu o início da moeda única, o euro, que entraria em Portugal em Janeiro de 2002 e iria contribuir para que o custo de vida aumentasse exponencialmente, dificultando fortemente a vida da maioria dos portugueses.Também em relação à adesão de Portugal à moeda única, o PCP se opôs fortemente. Na Assembleia da República o Partido Comunista votou sempre contra a entrada do euro em Portugal, explicou quais as consequências que os portugueses iriam sofrer com o euro; explicou porquê e apresentou alternativas. Numa dessas vezes em que um deputado comunista (Lino de Carvalho, já falecido) estava a argumentar a esse respeito, um deputado democrata-cristão(?) virou-se para o Lino de Carvalho e disse-lhe: "Vocês comunistas, querem é impedir o povo português de ir em frente, no sentido do desenvolvimento e do progresso".
Já todos pudemos constatar o progresso e o desenvolvimento que o euro nos trouxe.Muitas têm sido as "batalhas" travadas pelos comunistas no que diz respeito ao que se tem passado no nosso país,relativamente a obras faraónicas, que resultam em fraudes e roubos ao erário público; privatizações escandalosas em que são dadas aos privados, partes importantes do nosso património, por meio-tostão furado; alterações ao código do trabalho, etc, etc, etc,. Enfim, durante estes 39 anos do pós 25 de Abril, nunca os comunistas se calaram e foram a única voz que denunciou sempre, frontalmente e sem medo, todos os atentados levados a cabo pelos partidos da direita, contra Portugal e os portugueses. Em resposta a essa luta e denúncia constantes ouviram-se respostas, tais como: "o PCP parece uma cassete, há 40 anos que diz sempre o mesmo; vejam lá se mudam o discurso porque já ninguém vos pode ouvir; como é que vocês querem atrair jovens para o vosso lado, se o vosso discurso é obsoleto? Mudem a cassete...".
Estas eram as frases mais ouvidas na A.República, nas tv(s), nos meios de comunicação social, nas mesas redondas e até na boca de muita gente do povo.

Ontem houve eleições para o Parlamento Europeu - Os portugueses foram chamados a votar, a expressar a sua vontade e a abstenção foi de 66,1%.
É vergonhoso; como se a abstenção resolvesse alguma coisa. Um povo que passa o tempo a protestar, a ser roubado, explorado, sacaneado e humilhado nos seus direitos mais elementares, ficou indiferente e deixou o seu futuro e a sua vida nas mãos dos carrascos.A casa está desarrumada e suja, todos têm consciência disso mas não fazem nada para limpá-la. Que raio de povo é este que prefere a euforia do futebol a exercer o direito de voto?

Hoje, um dia após as eleições para o P. Europeu, e depois de saber que Marinho Pinto conseguiu ali um lugar, foi com muita admiração que ouvi as seguintes frases a seu respeito: "Temos que reconhecer que o homem é corajoso, denuncia as vigarices sem receio de nada; diz as coisas às claras e na cara das pessoas; aquele é um homem de t.....s".

Faz-me muita tristeza e revolta esta dualidade de critérios, ou seja:
- os comunistas que SEMPRE denunciaram as vigarices, os roubos aos trabalhadores e ao erário público, a corrupção, os atentados ao património nacional e os assaltos aos nossos bolsos são a "cassete";
 - M. Pinto, que não passa de um demagogo, que enquanto Bastonário da Ordem dos Advogados aprovou para ele próprio um ordenado milionário; que se limita a dizer umas coisas "em voz alta" mas nunca denunciou, nem afrontou qualquer governo; que fez parte dos vigaristas do grupo de Macau, aquele em que estiveram metidos C. Melancia, Almeida Santos, Strecht Monteiro, Rui Mateus e outros "socialistas da treta", um grupo de corruptos  que foram denunciados pelo famoso fax enviado pela empresa alemã Weidleplan, em 1989 (lembram-se disto?), este mesmo, que fez tudo isto é apelidado como um "homem corajoso" e os portugueses trataram de arranjar-lhe uma reforma dourada.

Que tremenda injustiça...

Mas os comunistas não baixarão os braços, não desistirão de lutar como nunca o fizeram. Como diz Jorge Palma na sua canção:
"Enquanto houver estrada para andar,
 A gente vai continuar,
 Enquanto houver estrada para andar.
 Enquanto houver vento e mar,
 A gente não vai parar,
 Enquanto houver vento e mar..."

(Texto da autoria de Ana Sara Cruz)