Saturday, January 14, 2012

Carta aberta ao meu amigo ZÉ

Começaria por te dizer meu caro amigo, que compreendo muito bem as tuas dúvidas, incertezas e inquietações sobre os rumos da igreja católica.
Oh se compreendo!
Tenho 66 anos e na minha juventude, ou seja, nos anos 60 em pleno regime fascista, fui um fervoroso militante da Ação Católica (Juventude Operária Católica). Este organismo que reconheço ter sido uma escola cívica e social, contribuiu de forma decisiva para aquilo que entendo ser hoje, a minha consciência política, cívica e social que, com a vivência dos tempos provocou em mim vicissitudes irreversíveis acerca daquela opinião, simples e pura que então eu tinha sobre o comportamento e objectivos da igreja.
Hoje, reconheço com amargura, que a igreja é contra a liberdade, igualdade e fraternidade, como desde sempre foi contra o iluminismo, muito embora tenha ações meritórias no campo social, a verdade é que por detrás deste cenário ilusório e aparentemente simpático, se escondem objetivos tenebrosos e inconfessáveis, isto, tendo em conta a sua inserção numa sociedade em que o binómio igreja/capitalismo sempre estiveram aliados, e a esmola como caridade, funciona associada como um estigma determinante na continuidade e consistência desta velha aliança, isto é, a população mais pobre e carenciada tanto em termos económicos, como culturais, acaba por ficar refém desta falsa subsistência, e com isto ficam manietados e resignados, perdem a sua natural capacidade reivindicativa dos seus direitos constitucionais, prevalecendo de forma contínua a condição de subserviência tutelada, e podes crer, que nada disto acontece por obra do acaso. E quando a igreja usa encenações de “caridade cristã”, fazem-no com o intuito de almofadar a ira e o descontentamento da população, porque no fundamental, receiam uma revolta popular, que teria consequências imprevisíveis para os poderes vigentes.
Outra das vergonhosas e chocantes razões, é a eterna ação de simonia praticada pela igreja, ao longo dos séculos, que naturalmente se traduz na angariação de fundos, para reverter no show off da caridade dita “cristã”, veja-se o caso dos constantes peditórios, ora para as obras da igreja, para as telhas da residência paroquial, para festas e romarias, procurando aos olhos dos incautos dar uma imagem de dificuldades e de pobreza, ou seja, tiram com as duas mãos e para dar com uma, procuram fazê-lo de preferência em show off frente às câmaras da televisão, como aconteceu ainda recentemente em Braga na entrega de meia dúzia de cabazes de Natal. A mais valia, de toda esta pedinchice, incluídos os rendimentos de Fátima, fica nos secretos segredos dos offshores ou paraísos fiscais, para acumulação e ostentação do riquíssimo e basto património do Vaticano. Se Cristo cá voltasse teria naturalmente muito trabalho, ou como se diz, não teria mãos a medir para escorraçar uma enorme quantidade de vendilhões do Templo.
Muito mais havia a dizer, mas para finalizar, não ficaria de bem com a minha consciência se não referisse que a igreja sempre foi e continuará a ser uma aliada dos poderosos, sobretudo, a partir do Édito de Milão no ano (313 d.c.) na era do imperador Constantino, até aos nossos dias, passando pelo tenebroso Santo Ofício, mais conhecido por inquisição, praticado desde 1536 no reinado de D. João III e abolido com o liberalismo em 1821.

O teu amigo,
Manuel Trindade