Bispo D. Januário capelão das Forças Armadas - Ex. bispo de Setúbal D. Manuel Martins
Quero aqui prestar a minha singela homenagem de admiração e estima por estas duas proeminentes figuras públicas da igreja católica portuguesa, na actualidade, pela coragem e lucidez das posições que ambos têm vindo a assumir, na defesa das suas convicções cristãs, ou seja, na defesa dos mais pobres, dos humilhados e excluídos da nossa sociedade.
Efectivamente estamos perante duas personalidades incómodas para com os poderosos, o conservadorismo, os silêncios e a apatia da sociedade portuguesa, tal como acontecia no nefasto tempo da ditadura, em que outra figura pública, como o saudoso bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, se notabilizou pela sua coragem na luta contra o fascismo.
Num preciso momento de servidão, em que o país se encontra, a caminhar a passos largos para o desastre, para o abismo, estes homens de bem, saíram das suas cátedras, para denunciar esta política de agressão contra o povo português, que está a ser levada a cabo, por este governo do PSD/CDS e com o acordo do PS.
Não vemos até ao momento, que outros altos dirigentes da igreja o tenham feito, antes pelo contrário vemos outras figuras como o cardeal D. Policarpo, tal como o cardeal Cerejeira no tempo da ditadura, a colaborar com esta política sinistra, com o corte do subsídio de Natal, com os aumentos dos transportes, aumento do IVA, do gás e electricidade.
Ninguém nega a D. Policarpo o direito à sua opinião pessoal, agora, aproveitar-se de forma abusiva do alto cargo que ocupa na hierarquia da igreja para vir a público pronunciar-se como apoiante do corte de subsídio de Natal, ou qualquer outra opinião de cariz político facioso, é expor-se publicamente e sujeitar-se a críticas ora benévolas ora violentas.
Fica assim provado, que dentro da igreja, ao contrário do que algumas criaturas tenta fazer crer, também há diferenças de opinião política, para não dizer luta de classes, não fosse ela (igreja), constituída por homens.
TESTEMUNHOS:
O bispo referiu que, «nesta altura, pedir austeridade é pedir sobretudo aqueles que ganham mais», dizendo que, em muitos casos, «não é isto que está a acontecer».
«Nós temos de lutar e dizer em voz alta, com respeito, respeitando a liberdade, respeitando as pessoas, mas respeitando antes de mais a verdade», apontou.
(D. Januário, bispo capelão das Forças Armadas)
(D. Manuel Martins antigo bispo de Setúbal)
2 comments:
Agora sou eu que não percebo as palavras do Cardeal Patriarca. Então ele, presidente da CEP, vai dizer uma coisa quando dois dos seus bispos defendem outra? Cada vez menos percebo a CEP.
Os bispos em questão neste post são, para mim, vultos de referência na Igreja e deixa-me apreensivo que até a esquerda já refira os bispos como exemplo de que as coisas estão muito mal; então é porque as coisas estão mesmo mal.
Que grande abre-olhos sr. Beja, que grande abre-olhos.. Pelo menos para mim, imberbe nesta coisa da política e me deixei levar pela "raiva" que fui educado a ter por quem está contra a Igreja. Parece-me a mim que é a Igreja (ou alguma da sua constituição antropológica) que começa a estar contra nós...
Meu caro Alexandre Martins
Começaria por lhe dizer, que compreendo bem as suas dúvidas, incertezas e inquietações sobre os rumos da igreja.
Oh se compreendo!
Tenho 65 anos e na minha juventude, ou seja, nos anos 60 em pleno regime fascista, fui um fervoroso militante da Ação Católica (Juventude Operária Católica). Esta escola contribuiu de forma decisiva para a formação que julgo ter hoje, nomeadamente a minha consciência política, cívica e social, que com a vivência dos tempos provocou em mim vicissitudes irreversíveis acerca daquela opinião, simples e pura que então eu tinha sobre do comportamento e objectivos da igreja.
Hoje, reconheço que a igreja muito embora tenha ações meritórias no campo social, isto, no quadro de uma sociedade de cariz capitalista, em que fatores como a esmola e a caridade são elementos determinantes na continuidade do sistema, isto é, a população mais carenciada acaba por ficar refém deste tipo de subsistência, e com isto perde a sua natural capacidade reivindicativa dos seus direitos constitucionais e assim prevalece a continuidade do sistema de subserviência tutelada e pode crer que nada disto acontece por obra do acaso.
Outra das vergonhosas e razões chocantes, é a eterna ação de simonia praticada pela igreja, ao longo dos séculos, que naturalmente se traduz na angariação de fundos, para reverter no show off da caridade dita cristã, ou seja, tiram com as duas mãos e nem sempre dão com uma, a mais valia, fica nos secretos offshores para acumulação e ostentação do riquíssimo Vaticano. Se Cristo cá voltasse teria naturalmente muito trabalho, para escorraçar uma enorme quantidade de vendilhões do Templo. Escusado será dizer, que me dispunha a colaborar com Ele.
Muito mais havia a dizer, mas para finalizar, não ficaria de bem com a minha consciência se não referisse que a igreja sempre foi uma aliada dos poderosos, sobretudo, a partir do Édito de Milão no ano (313 d.c.) na era do imperador Constantino, até aos nossos dias, passando pela tenebrosa inquisição, praticada entre o reinado de D. João III e abolida pelo Marquês de Pombal no reinado de D. José I.
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