Começaria por comentar, a forma
cruel e sanguinária como foram assassinados, dois jornalistas norte-americanos através
da decapitação, aliás, processo usado frequentemente nos tempos da idade média.
Ora isto, na época contemporânea, para qualquer ser humano sensato, é
extremamente chocante e horroroso. Contudo, importa referir que os americanos
também não são nenhuns “santos” no que concerne à violência, nomeadamente
através de bombardeamentos indiscriminados sobre populações indefesas, muito
embora, com menos impacto na opinião pública comparado com as imagens
televisíveis da decapitação de jornalistas. Os bombardeamentos de cidades,
aldeias, escolas e hospitais, como aconteceu na Faixa de Gaza, na invasão do
Iraque e da Líbia, não deixa de ser uma violência tão ou mais cruel. Quantos
seres humanos, homens e mulheres, engenheiros, médicos, professores,
trabalhadores e crianças, ficaram desfeitos em pedaços, sem que o mundo se
mostrasse tão chocado, como aconteceu agora com a decapitação de dois
jornalistas americanos.
A guerra que alastra na Síria, no
Iraque e na Líbia, é sem dúvida uma guerra de cariz religioso, cultural e
económico. Mas, importa analisarmos as causas que estão na origem destas guerras,
que tiveram o seu início com nas manifestações das ditas “Primaveras Árabes” que
segundo os seus promotores e apoiantes, tinham por objetivo a implantação de
uma suposta democracia nestes países. Por ironia do destino, rapidamente se
transformaram em “guerras santas” com vista à formação e implantação de um Estado
Islâmico fundamentalista e radical. Em minha opinião, o eterno conflito Israel
versos Palestina, está na origem primeira no despoletar desta catástrofe no
Médio Oriente, com os grupos radicais conhecidos por jihad islâmica a recorrer
a ações de violência extrema. Desde sempre, houve um mal-estar na comunidade
árabe muçulmana, em relação ao conflito entre Israel e os países Árabes,
juntamente com as sequelas ou resquícios históricos, que vem da Idade Média, em
relação à civilização ocidental, segundo a sua religião, cultura e economia.
A existência, de enormes
quantidades de jazidas de petróleo nos países do Médio Oriente, foram de facto
o detonador determinante desta catástrofe, para a qual se desconhece o seu fim.
A guerra, movida pelo autodenominado Estado Islâmico ao Ocidente, tem por
inimigo principal os EUA e a Europa, que ousaram despertar um “enxame de
vespas” que entretanto estava adormecido, com a ingerência e invasão do Iraque
e degolação ou decapitação do seu líder, Saddam Hussein, tudo isto, com a falsa
justificação da existência de armas de destruição maciça e para implantação de
uma suposta democracia, pelo que se veio a provar, que tudo não passou de uma farsa
ou encenação para após a invasão e o trabalho sujo terminado, colocar no Iraque
um governo fantoche, com o único objetivo de sacar o petróleo, dado que os
negócios petrolíferos entre a família Bush e a família de Osama bin Laden, teriam terminado. A Al-Qaeda,
organização entretanto criada e liderada por Osama bin Laden, cujo a sua morte
executada pelos americanos, acabou por constituir mais uma acha para a
fogueira, ou a gota de água que fez transbordar o copo, um dos elementos mais
importantes, senão o mais importante, que contribuiu de certa forma para as
ações radicais de terror que hoje assistimos na atualidade, levadas a cabo pelos
fundamentalistas da Al-Qaeda e jihad islâmica, sobretudo contra os americanos e
europeus.
Os acontecimentos na Líbia, com a
intervenção da NATO, dá-se uma situação de ingerência em tudo semelhante, ao
Iraque, também aqui, com a finalidade da pilhagem do petróleo, muito embora, aqui não houvesse
uma intervenção terreste, mas, apenas uma ação de bombardeamentos aéreos, de
apoio aos ditos rebeldes que se “revoltaram” contra Muammar Kadafi. Por ironia
do destino, vem-se agora a constatar, o caos criado pelos apoiantes de Kadafi, que
entretanto se organizaram e combateram o poder então estabelecido após Kadafi, estes
grupos, são agora comandados pela jihad islâmica, com avanços significativos na
conquista de cidades e controlo do aeroporto da capital da Líbia, Tripoli.
Na Síria, país que de há muito
tempo estava na agenda e objetivos dos americanos, a sua destabilização para
depor o governo de Bashar al-Assad, que era hostil aos americanos. Na Síria, 90%
da população professa a religião muçulmana, apenas 10% da população é cristã. O
Estado é laico, muito embora, seja um regime autoritário, a verdade é que as
minorias são respeitadas sejam elas de que procedência forem. Ora isto, faz
toda a diferença comparado por exemplo, com a Arábia Saudita, que é um país em
que o Estado é oficialmente muçulmano, regime de uma tenebrosa ditadura onde se
cometem atrocidades contra os diretos humanos, em que as minorias religiosas,
nomeadamente cristãos são perseguidos, a verdade é que os imperialistas americanos
e europeus, são os seus grandes amigos e aliados e não os vejo nada preocupados
com a inexistência da suposta democracia neste país. Para dar um exemplo: Ai da
mulher, seja muçulmana ou não, que se atreva a andar em público sem um lenço na
cabeça. Pois, na europa as mulheres muçulmanas podem usar ou não o lenço na
cabeça, sem serem molestadas pelas autoridades.
Voltando ao caso da Síria, afinal,
os ditos “rebeldes” que se “revoltaram” contra o governo de Bashar al-Assad
com o apoio dos americanos através da CIA, numa primeira fase com a
destabilização do país, através da organização de uma agitação popular, aliás,
técnicas já conhecidas postas em prática em países hostis à administração dos
EUA, e sempre que os americanos pretendam fazer uma ingerência ou invasão. Segue-se numa outra fase mais avançada, o apoio dos americanos e europeus
através de dinheiro, e fornecimento de armas modernas para combaterem o regime
de Bashar al-Assad. Afinal de contas, veio-se a constatar que os ditos “rebeldes”
não passavam de jihadistas islâmicos pertencentes ao Estado Islâmico,
disfarçados de combatentes pela suposta democracia.
Podemos, sem
qualquer receio afirmar que os americanos, juntamente com os europeus,
fartaram-se de dar tiros nos seus próprios pés, ou seja, contribuíram com as
suas irresponsáveis ambições e perigosas aventuras, para o expansionismo do tão
temido Estado Islâmico. Agora, foi preciso acontecer a decapitação de dois inocentes
jovens jornalistas americanos para reconhecerem os seus erros cometidos. E
então, propõem-se agora, fazerem alianças com os seus anteriores principais e perigosos
inimigos, apelidados de “terroristas”, ou seja, o regime Sírio, o Irã e até o
PKK partido dos trabalhadores do Curdistão, que começa a ser visto com outros olhos
pelos americanos, só porque estão na linha da frente no combate ao dito Estado
Islâmico. Ainda recentemente, os guerrilheiros do PKK ajudaram a resgatar da
ameaça de massacre, dezenas de milhares de refugiados Yezidis e cristãos no
norte do Iraque, das garras dos carniceiros do ISIS.
Até aqui, os americanos
não se preocuparam e até toleraram o avanço, dos jihadistas islâmicos na Síria
e no Iraque, apenas e só, porque lhes dava jeito, para alcançar o domínio e
controlo do petróleo nesta região. Agora, depois do volte face, para além dos
americanos, mais sete países europeus e outros países ocidentais, veem
desesperadamente a correr, fornecer armas ao exército dos “peshmergas” curdos
iraquianos, que até então não lhes davam importância alguma, às suas
reivindicações de uma sua “pátria”, que chamam de Curdistão, não têm limites
oficiais, mas se estende desde as montanhas Zagros no Irã até a parte do
Iraque, Síria e Turquia Oriental.
Dir-se-ia, que os americanos para
sacar o petróleo destes referidos países, fazem alianças se preciso for, nem
que seja com o “diabo”. Não se trata de contradições, trata-se sim, da ganância
própria dos predadores do petróleo.
Se porventura, algum dia o dito
Estado Islãmico se vier a disseminar pelo mundo (esperemos que não), podemos
dizer que a culpa se deveu essencialmente às irresponsáveis aventuras perigosas,
motivadas pela ganância do imperialismo americano e o seu satélite europeu.
(Beja Trindade)
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