Este meu artigo estava destinado para uma certa cerimónia.
Mas quem sou eu para as cerimónias?
São vocês familiares, camaradas e amigos, a quem eu devo a minha dedicação e respeito. Viva o 25 de Abril! Viva o Povo Português!
Onde Estavas no 25 de Abril?!
O regime fascista estava a sofrer muitas contradições, o Povo começava a manifestar muita insatisfação pelo peso das responsabilidades que assumia para sobreviver.
Chefes de família desdobravam-se em tarefas mal remuneradas, desenvolvendo trabalho extra para atenuar as dívidas que acumulavam dia após dia.
Os melhores lugares estavam destinados para as mesmas famílias, com capacidades duvidosas, bastava o estatuto.
A escola era uma miragem para o Povo, embora muitos se tivessem aventurado a estudar de noite, levantando-se cansados para responder nas empresas às exigências que cresciam em cada dia.
Sempre que podiam os nossos jovens partiam para a emigração, mesmo clandestinos, por sentirem que a única garantia que tinham era a pobreza, porque como futuro tinham já a prova nas suas casas, os resultados de seus pais.
A fome, a pouca cultura e o medo permanente, obrigando muitos a venderem-se empenhando a consciência, para bajularem uma defesa de pessoa dita importante ou influente nas hostes dos coveiros do estado novo, fascistas, cabo de ordens ou regedor.
O domingo servia para recarregar as baterias, ouvir os relatos, jogar umas cartas e dominó no tasco mais próximo, bebendo uns copos para afogar a fúria sem direção, que se adormecia muitas vezes na convicção de que não tínhamos sido bafejados pela sorte.
Falar de política era muito difícil, pelo estatuto do medo, até porque quando alguma conversa se dirigisse na rua da contestação, seriamos logo abafados pelos restantes como que se fosse crime discordar ou queixar.
Lentamente começavam a saber que alguns faziam protestos, tanto nas escolas como nas fábricas e em muitos quartéis dos vários setores das forças armadas.
Levando em surdina a convocatória de boca a boca, com uns papéis impressos com stensil, num espaço clandestino dum qualquer vão de escada.
O sofrimento dos trabalhadores juntando o terror das mobilizações para a guerra em África, período em que os pais desejavam que nascessem filhas, para que não tivessem de fazer luto dos filhos aos vinte anos, depois de tantos sacrifícios por amor aos rebentos.
Estava criado um tempo e clima para que o povo se levantasse derrubando o governo fascista já velho e carregado de contradições.
Os monopólios são insaciáveis e algumas famílias portuguesas estavam a reagir para não dividirem a exploração com os novos grupos internacionais.
O reflexo das lutas, nas deserções, prisões arbitrárias, torturas, desterros e o sacrifício de muitos militantes do PCP, assassinados até em via pública, juntamente com outros democratas e patriotas, todos os que apontassem o dedo aos ladrões e coveiros do país e do Povo, os instalados no Terreiro do Paço.
O setor das artes gráficas, lidava com os livros, paralisava em todos os dias 1º de Maio, como feriado de setor, não como dia do trabalhador.
O propósito deste feriado interessava ao regime, para assim melhor controlar os impressos clandestinos que pudessem relevar a data como data mundial do dia dos trabalhadores.
O cansaço e revolta, começaram a tocar muitos mais setores da população, os sindicatos esforçaram-se por controlar a atividade dos descontentes, evitando o progressismo e criando problemas a quem denunciasse os abusos, passando a ser condenado a vitima, protegendo o patrão como rei e senhor, capaz de despedir sem consequências quem não bajulasse como escravo o seu poder.
Como corporativistas, informavam com urgência a PIDE/DGS para com lista fornecida e inventada pelo patronato via sindicato, inventando testemunhas falsas, sendo presos como ativistas subversivos e traidores há pátria, fazendo crescer o medo refreando ou anulando qualquer ação.
Havendo os que nunca se renderam, os trabalhadores organizados no Partido, que nos campos, no mar e nas fábricas, acreditaram na formação de quadros capazes de desenvolver junto dos melhores filhos do povo, um exército de trabalhadores com consciência de classe, capaz de fazer chegar aos restantes a força que os trabalhadores possuem.
Criaram-se os delegados sindicais que deixaram de ser elos de ligação dos sindicatos fantoches e passaram a defender os seus companheiros os que os elegeram.
Quando esta consciência chegou ao povo, como sumo do sofrimento dos militantes destacados, não mais se parou a luta pela Liberdade.
Hoje todos sabemos que o 25 de Abril é a somatório das lutas e nunca um ato folclórico onde os carros alegóricos são o desfile de Chaimites, G3, Jipes e soldados em marcha de cerimónia, fazendo a continência aos oficiais superiores e representantes do governo, os instalados.
Folclore que se repete na Assembleia da República com discursos floridos dos mesmos que desejam apagar tudo o que foi revolução, o ato de derrube da ditadura, serviu apenas para o Povo alavancar a revolução dos Cravos, porque foi o Povo que exigiu que os militares saíssem dos quarteis, fazendo com que homologassem as conquistas que se realizavam nas ruas.
Daí se diz que o Povo saiu à rua.
No dia 25 de Abril estava dentro da litografia onde trabalhava, a exigir que os meus companheiros levassem os mais indecisos a sair em apoio aos militares revoltosos, enfrente do Quartel-general na Praça da República no Porto.
Dando apoio à Revolução exigindo a condenação dos responsáveis pelos crimes praticados, seguindo em grupos organizados até à rua do Heroísmo, para exigir a prisão dos Pides lacaios nojentos que se encontravam ainda nos seus postos na sede, quartel e prisão.
Os Cravos de Abril
O 25 de Abril não é uma data
É o resultado da exploração
Daquela força inata
Que nos obriga a dizer não
Juntos soldados e Povo
Capitães e milicianos
Projetaram um País novo
Derrubando os tiranos
Logo o Povo saiu há rua
Consolidando cada conquista
Porque a revolução era sua
Escorraçando todo o fascista
Os operários e camponeses
Unidos os trabalhadores
Atacaram os burgueses
Seus principais exploradores
Foi muito, o sofrimento
Que o Povo suportou
Até levar a cada regimento
O Cravo que nos levantou
Foram saneados Coronéis
Comandantes e Generais
Ficando dentro dos quarteis
Os mais conscientes e leais
Construindo pontes e estradas
Alfabetizando os mais velhos
Tratados por camaradas
Seus atos eram espelhos
Nas Fábricas, Campos e Escolas
No Comércio, Mar e Ciência
Deixaram de receber esmolas
Por esgotarem a paciência
Em reivindicações permanentes
Exigindo trabalho com direitos
Lutando em todas as frentes
Combatendo sem preconceitos
Com Mineiros e pescadores
Dos serviços, mais diversos
Com artistas e cantores
Cantando os novos versos
Na rua de punho erguido
Nos cânticos em arraiais
Sem olhar o seu umbigo
Muitos e bons intelectuais
Cantaram o Povo, sorrindo
A Liberdade dos bravos
Naquele Abril colorindo
O Vermelho dos nossos Cravos
Carlos Albertro
Mas quem sou eu para as cerimónias?
São vocês familiares, camaradas e amigos, a quem eu devo a minha dedicação e respeito. Viva o 25 de Abril! Viva o Povo Português!
Onde Estavas no 25 de Abril?!
O regime fascista estava a sofrer muitas contradições, o Povo começava a manifestar muita insatisfação pelo peso das responsabilidades que assumia para sobreviver.
Chefes de família desdobravam-se em tarefas mal remuneradas, desenvolvendo trabalho extra para atenuar as dívidas que acumulavam dia após dia.
Os melhores lugares estavam destinados para as mesmas famílias, com capacidades duvidosas, bastava o estatuto.
A escola era uma miragem para o Povo, embora muitos se tivessem aventurado a estudar de noite, levantando-se cansados para responder nas empresas às exigências que cresciam em cada dia.
Sempre que podiam os nossos jovens partiam para a emigração, mesmo clandestinos, por sentirem que a única garantia que tinham era a pobreza, porque como futuro tinham já a prova nas suas casas, os resultados de seus pais.
A fome, a pouca cultura e o medo permanente, obrigando muitos a venderem-se empenhando a consciência, para bajularem uma defesa de pessoa dita importante ou influente nas hostes dos coveiros do estado novo, fascistas, cabo de ordens ou regedor.
O domingo servia para recarregar as baterias, ouvir os relatos, jogar umas cartas e dominó no tasco mais próximo, bebendo uns copos para afogar a fúria sem direção, que se adormecia muitas vezes na convicção de que não tínhamos sido bafejados pela sorte.
Falar de política era muito difícil, pelo estatuto do medo, até porque quando alguma conversa se dirigisse na rua da contestação, seriamos logo abafados pelos restantes como que se fosse crime discordar ou queixar.
Lentamente começavam a saber que alguns faziam protestos, tanto nas escolas como nas fábricas e em muitos quartéis dos vários setores das forças armadas.
Levando em surdina a convocatória de boca a boca, com uns papéis impressos com stensil, num espaço clandestino dum qualquer vão de escada.
O sofrimento dos trabalhadores juntando o terror das mobilizações para a guerra em África, período em que os pais desejavam que nascessem filhas, para que não tivessem de fazer luto dos filhos aos vinte anos, depois de tantos sacrifícios por amor aos rebentos.
Estava criado um tempo e clima para que o povo se levantasse derrubando o governo fascista já velho e carregado de contradições.
Os monopólios são insaciáveis e algumas famílias portuguesas estavam a reagir para não dividirem a exploração com os novos grupos internacionais.
O reflexo das lutas, nas deserções, prisões arbitrárias, torturas, desterros e o sacrifício de muitos militantes do PCP, assassinados até em via pública, juntamente com outros democratas e patriotas, todos os que apontassem o dedo aos ladrões e coveiros do país e do Povo, os instalados no Terreiro do Paço.
O setor das artes gráficas, lidava com os livros, paralisava em todos os dias 1º de Maio, como feriado de setor, não como dia do trabalhador.
O propósito deste feriado interessava ao regime, para assim melhor controlar os impressos clandestinos que pudessem relevar a data como data mundial do dia dos trabalhadores.
O cansaço e revolta, começaram a tocar muitos mais setores da população, os sindicatos esforçaram-se por controlar a atividade dos descontentes, evitando o progressismo e criando problemas a quem denunciasse os abusos, passando a ser condenado a vitima, protegendo o patrão como rei e senhor, capaz de despedir sem consequências quem não bajulasse como escravo o seu poder.
Como corporativistas, informavam com urgência a PIDE/DGS para com lista fornecida e inventada pelo patronato via sindicato, inventando testemunhas falsas, sendo presos como ativistas subversivos e traidores há pátria, fazendo crescer o medo refreando ou anulando qualquer ação.
Havendo os que nunca se renderam, os trabalhadores organizados no Partido, que nos campos, no mar e nas fábricas, acreditaram na formação de quadros capazes de desenvolver junto dos melhores filhos do povo, um exército de trabalhadores com consciência de classe, capaz de fazer chegar aos restantes a força que os trabalhadores possuem.
Criaram-se os delegados sindicais que deixaram de ser elos de ligação dos sindicatos fantoches e passaram a defender os seus companheiros os que os elegeram.
Quando esta consciência chegou ao povo, como sumo do sofrimento dos militantes destacados, não mais se parou a luta pela Liberdade.
Hoje todos sabemos que o 25 de Abril é a somatório das lutas e nunca um ato folclórico onde os carros alegóricos são o desfile de Chaimites, G3, Jipes e soldados em marcha de cerimónia, fazendo a continência aos oficiais superiores e representantes do governo, os instalados.
Folclore que se repete na Assembleia da República com discursos floridos dos mesmos que desejam apagar tudo o que foi revolução, o ato de derrube da ditadura, serviu apenas para o Povo alavancar a revolução dos Cravos, porque foi o Povo que exigiu que os militares saíssem dos quarteis, fazendo com que homologassem as conquistas que se realizavam nas ruas.
Daí se diz que o Povo saiu à rua.
No dia 25 de Abril estava dentro da litografia onde trabalhava, a exigir que os meus companheiros levassem os mais indecisos a sair em apoio aos militares revoltosos, enfrente do Quartel-general na Praça da República no Porto.
Dando apoio à Revolução exigindo a condenação dos responsáveis pelos crimes praticados, seguindo em grupos organizados até à rua do Heroísmo, para exigir a prisão dos Pides lacaios nojentos que se encontravam ainda nos seus postos na sede, quartel e prisão.
Os Cravos de Abril
O 25 de Abril não é uma data
É o resultado da exploração
Daquela força inata
Que nos obriga a dizer não
Juntos soldados e Povo
Capitães e milicianos
Projetaram um País novo
Derrubando os tiranos
Logo o Povo saiu há rua
Consolidando cada conquista
Porque a revolução era sua
Escorraçando todo o fascista
Os operários e camponeses
Unidos os trabalhadores
Atacaram os burgueses
Seus principais exploradores
Foi muito, o sofrimento
Que o Povo suportou
Até levar a cada regimento
O Cravo que nos levantou
Foram saneados Coronéis
Comandantes e Generais
Ficando dentro dos quarteis
Os mais conscientes e leais
Construindo pontes e estradas
Alfabetizando os mais velhos
Tratados por camaradas
Seus atos eram espelhos
Nas Fábricas, Campos e Escolas
No Comércio, Mar e Ciência
Deixaram de receber esmolas
Por esgotarem a paciência
Em reivindicações permanentes
Exigindo trabalho com direitos
Lutando em todas as frentes
Combatendo sem preconceitos
Com Mineiros e pescadores
Dos serviços, mais diversos
Com artistas e cantores
Cantando os novos versos
Na rua de punho erguido
Nos cânticos em arraiais
Sem olhar o seu umbigo
Muitos e bons intelectuais
Cantaram o Povo, sorrindo
A Liberdade dos bravos
Naquele Abril colorindo
O Vermelho dos nossos Cravos
Carlos Albertro
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