As profundas transformações, económicas e sociais numa época de crise na Europa nos séculos XVII e XVIII, poderão muito bem elucidar-nos quanto à melhor compreensão da problemática situação de crise económica e suas mutações na actualidade, muito embora, utilizando para o efeito comparações em situações análogas, salvaguardando as devidas distâncias das épocas e contexto, podemos a partir desta narrativa elaborar uma reflexão com vista à melhor compreensão quanto à razão do aparecimento e existência das crises suas origens, consequências e porventura as suas contradições. Por outro lado a possibilidade de identificar as motivações subjacentes às transições que se operaram na transformação da economia nessa época como resposta a uma crise agrícola. Naturalmente que as crises não aparecem por acaso, há sempre causas e motivações resultantes de vários factores. Podemos aqui fazer uma apreciação ou reflexão das motivações que levaram à transição do feudalismo, para o capitalismo, ou seja, a transição do trabalho do campo, para o trabalho da indústria, em virtude do estado de depressão a que chegou a agricultura e ainda, a consequente mobilidade da indústria da cidade para as zonas rurais, a transição do trabalho domiciliário para um trabalho colectivo dando origem ao aparecimento de uma nova classe do proletariado.
Se comparar-mos essa transformação e reestruturação aos nossos dias, em que os antigos métodos mecanizados deram lugar ao aparecimento das novas tecnologias, que ao contrário do que determinados pensadores e ideólogos diziam, vinham para libertar a humanidade, na verdade o que se verifica, é que tudo não passou de uma mera utopia de boas intenções, sendo que, afinal pelo contrário se constata, que as novas tecnologias vieram não para libertar o homem, mas antes para o penalizar.
Em termos comparativos podemos concluir que nos referidos séculos XVII e XVIII, a crise da época, tinha outras origens muito diferentes da crise dos nossos dias, ou seja, enquanto que nessa época a produtividade assentava na importância vital do trabalho manual e artesanal, tudo oscilava em função da baixa ou alta demografia provocada pela enorme mortalidade devido às guerras, pestes e epidemias, assim como, às más colheitas devido às condições climatéricas, no aparecimento de novas técnicas de produção e a diversificação da industria, de novas matérias primas, a conjugação dos preços do produto final e o alargamento do comércio a novos mercado, foram factores preponderantes na reestruturação de uma nova e progressiva economia, reflectindo-se num crescimento demográfico e numa melhoria das condições sociais da população.
Nos tempos de hoje, estamos perante um dilema contraditório em comparação com o antigo regime, ou seja, se por um lado com as novas tecnologias, se obtiveram grandes avanços para a humanidade, por outro lado houve grandes retrocessos no bem-estar dessa mesma humanidade, que se poderá traduzir na crise instalada na Europa contemporânea, nomeadamente com o galopante desemprego, motivado como já referi, pela substituição do trabalho humano, pelas máquinas tecnológicas e para além de mais, por uma produção assente numa mão de obra barata e em grande parte desqualificada, pelas sucessivas deslocalizações da indústria para países estrangeiros, em suma, pela destruição do aparelho produtivo, tudo isto, tolerado e consentido dando origem a um autêntico anarquismo económico, sendo que é bom de ver, que há quem tire proveito de tal situação, muito embora, haja quem preconize, uma nova ordem económica mundial, a verdade, é que tudo não tem passado de retórica. Ora esta crise, não acontece de forma abstracta, mas sim de forma concreta nomeadamente quando se ajudam os bancos e se sacrificam os povos, quando se tolera a desenfreada competição e ganância na obtenção de fabulosos lucros, com o beneplácito dos governantes do mundo. Um dos exemplos que acabo de expressar e que se prende como factor da crise contemporânea, foi sem dúvida o aparecimento da globalização, que teve por origem as novas tecnologias e que rapidamente se converteu numa «galinha de ovos de ouro», em benefícios financeiros de uns quantos, ou seja, de uma ínfima minoria da população mundial, contrastando com uma esmagadora maioria da população que se vê excluída e espoliada de uma vida digna, e quantas das vezes restando-lhes a morte pela falta de assistência medicamentosa para combater as doenças e sobretudo pela fome, que começa agora a alastrar com mais intensidade um pouco por toda a Europa, naturalmente com mais incidência e expressão no continente africano. Será esta crise, a peste negra contemporânea que nos vai dizimar?
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